Idólatra! Essa é uma palavrinha que é dita com muita frequência quando alguém quer falar mal de nós católicos. Eles nos acusam ferozmente de cometer esse pecado, dispensando qualquer demonstração de respeito pela nossa imagem. Porém, quase sempre se engana quem costuma usar essa palavra. Na verdade, quem usa a palavra “idolatria” quase sempre ignora o seu verdadeiro significado.
O que é Idolatria?
“A palavra Idolatria vem do latim eclesiástico idolatria, do grego eidolatres. Formada pela junção das palavras: eidolon = ídolo, e lautreuein = adorar”1.
Ou seja, adorar um ídolo.
E o que é um ídolo?
Ídolo: “Estátua ou objeto cultuado como deus, que o substitui como objeto de adoração. Um falso deus”.
Ou seja, algo (qualquer coisa) ou alguém (qualquer pessoa) que é posto no lugar de Deus.
E o que é adoração?
Adorar é reconhecimento de algo ou alguém como ser supremo. “É essencialmente um ato da mente e da vontade, mas comumente expresso em atos externos de sacrifício, prece e reverência. A adoração, no sentido estrito, é devida a Deus somente”.
Render culto à divindade…
Ou seja, reconhecer algo ou alguém como um deus.
SENDO ASSIM…
IDOLATRIA É O ATO DE RECONHECER UM FALSO DEUS COMO SER QUE ESTÁ ACIMA DE TUDO.
DESSA FORMA, O ATO DA IDOLATRIA É IMPOSSÍVEL DE SER PRATICADO POR UMA PESSOA QUE ACREDITA QUE SÓ EXISTE UM DEUS, QUE ACREDITA QUE ELE ESTÁ ACIMA DE TUDO E QUE “AMA A DEUS SOBRE TODAS AS COISAS” (Primeiro mandamento da lei de Deus).
E COMO É IMPOSSÍVEL SER CATÓLICO DISCORDANDO DESSE MANDAMENTO, ESTÁ MAIS DO QUE CLARO QUE É IMPOSSÍVEL QUE UM CATÓLICO PRATIQUE A IDOLATRIA.
E mais… Segundo o significado da palavra “adorar”, ainda explicamos que é impossível dizer que alguém está cometendo o pecado da idolatria apenas observando suas atitudes, pois uma simples atitude não reflete exatamente o que se passa no coração de uma pessoa. O ato de adorar é algo que não se pode expressar somente em ações, mas vem essencialmente da mente, da vontade e parte do coração.
Partindo dos significados etimológicos e teológicos que listamos acima, vamos tentar ilustrar isso em uma situação:
Experimente chegar para um católico que tem devoção por algum santo e perguntar a ele quem é maior, Deus ou o santo. Acho que é fácil saber a resposta, não é?
O que acontece é que a acusação da idolatria proferida contra os católicos é completamente sem fundamento.
É justamente com o intuito de desmentir essas falsas acusações que o Quero saber sobre Deus vem falar nesta e na próxima postagem sobre a questão da IDOLATRIA. Primeiro estudaremos o culto que os católicos prestam aos santos e no próximo artigo falaremos da adoração prestada à Sagrada Eucaristia.
CULTO AOS SANTOS
Nós, católicos, cremos no que chamamos de intercessão dos santos, ou seja, que os santos, que foram homens e mulheres de muita fé e muito tementes a Deus em vida, por estarem compartilhando atualmente da glória do Senhor, podem orar por nós diante de Deus pedindo que Ele realize graças em nossas vidas, atendendo às nossas orações.
Veja que a Doutrina Católica não vê um santo como um espírito que tem poderes especiais que faz milagres por conta própria, querendo para si reconhecimento pelo que faz. Um santo não possui poderes próprios. Nós pedimos algo a um santo e ele, por estar vivendo na presença eterna de Deus, ora por nós pedindo que Deus nos conceda a graça.
No final das contas os santos são intercessores e quem realiza os milagres é o único que tem poder para isso: Deus! Mas por que é tão difícil entender algo tão simples? Aí entra a danada da má interpretação bíblica. Quem acusa os católicos tem mania de usar versículos isolados e completamente fora do contexto bíblico para provar suas teorias mirabolantes. Vamos analisar agora as acusações e os argumentos utilizados por eles.
ACUSAÇÃO Nº 1: Deus proibiu que fossem feitas imagens quando disse “Não farás para ti escultura alguma do que está nos céus, ou embaixo sobre a terra, ou nas águas, debaixo da terra” (Êxodo 20:4). Ao rezarem diante de uma imagem vocês estão desrespeitando essa ordem de Deus, além de estarem cometendo Idolatria!
Olhando para isso façamos a seguinte pergunta: será que Deus está se referindo a qualquer tipo de escultura? Se estiver, então devemos considerar que o próprio Deus foi o maior idólatra que já existiu, pois Ele mesmo mandou construir duas estátuas de anjos na Arca da Aliança (Êxodo 25:18), uma imagem de serpente que curava as vítimas de picadas de cobra no deserto (Números 21:8), além do que Deus encheu com Sua glória o templo do rei Salomão, que era repleto de imagens de anjos e animais em suas paredes (I Reis, 7:29). Logicamente, pensar que Deus é um idólatra é ridículo. Então quer dizer que Deus está se contradizendo? Não. Ao analisar um texto bíblico, devemos fazê-lo dentro do contexto em que ele foi escrito.
Em primeiro lugar, se formos analisar a tradução grega da Bíblia, veremos que o termo que foi traduzido como escultura na verdade é “eidolon”, que significa ídolo. E como já abrimos este post explicando, um ídolo é tudo aquilo que colocamos no lugar que é exclusivo de Deus. O que por si só já configura um pecado contra o primeiro mandamento que é “Amai a Deus sobre todas as coisas”.
Logo, qualquer coisa pode ser um ídolo: dinheiro, trabalho, mulheres, etc. Podemos então deduzir que Deus não estava falando de qualquer tipo de escultura, mas apenas das que representassem ídolos, ou seja, falsos deuses. Se formos analisar o texto de êxodo 34, Deus, ao pedir que Moisés reescreva os dez mandamentos para substituir a antiga tábua que havia sido quebrada, é muito mais específico ao falar dessas imagens. Segue o texto:
“Não adorarás nenhum outro deus, porque o Senhor, que se chama o zeloso, é um Deus zeloso” (Êxodo 34:14)
“Não farás deuses de metal fundido” (Êxodo 34:17)
Deus poderia ser mais claro do que isso? Aí nós perguntamos: por que esse texto da bíblia também não é levado em consideração quando alguém decide acusar os católicos de idolatria?
Lembrem-se também que durante décadas os israelitas foram escravos dos egípcios, sendo dessa forma expostos a uma cultura idólatra e politeísta. O objetivo de Deus era impedir que essa prática se propagasse.
ACUSAÇÃO Nº 2: Vocês ajoelham-se diante de imagens e fazem orações a elas. Isso é adoração!
Então quer dizer que quando Abraão se ajoelhou diante dos três anjos que estavam passando perto de sua tenda (gênesis 18:2) ele os estava adorando? Mas logo Abraão, o homem chamado de pai da fé, aquele com quem Deus firmou uma aliança? Lógico que não! E olhe que esta é somente uma das inúmeras passagens da Bíblia que mostram uma pessoa se prostrando diante de alguém que não é Deus. Além disso, como já falamos no início desta postagem, as orações que fazemos aos santos são pedidos de intercessão, ou seja, nós pedimos que os santos orem por nós diante de Deus. Não são eles que realizam os milagres, mas o Senhor. Vejamos o que o Catecismo da Igreja Católica fala a esse respeito:
“O culto da religião não se dirige às imagens em si mesmas como realidades, mas olha-as sob o seu aspecto próprio de imagens que nos conduzem ao Deus encarnado. Ora, o movimento que se dirige à imagem enquanto tal não se detém nela, mas orienta-se para a realidade de que ela é imagem” (Catecismo da Igreja Católica, 2131-2132.)
Trocando em miúdos, as imagens nada mais são que representações dos verdadeiros santos. Logo as orações que fazemos em frente a elas são, na verdade, direcionadas a quem elas representam: os santos, que “nos conduzem ao Deus encarnado”. Veja que a própria doutrina católica não vê os santos como deuses, mas os considera como setas que apontam para o único Deus em sua santa Trindade.
Santos são como setas que apontam para Deus em Sua Trindade Santa
ACUSAÇÃO Nº 3: “Jesus é o único mediador entre Deus e os homens” (I Timóteo 2:5), logo outras pessoas não podem mediar essa relação!
O engraçado é que esse argumento prova a nossa primeira explicação, de que tais acusadores analisam o texto bíblico totalmente fora do contexto. Vamos ver o que dizem os versículos imediatamente anteriores a este:
“Acima de tudo, recomendo que se façam preces, orações, súplicas, ações de graças por todos os homens, pelos reis e por todos os que estão constituídos em autoridade, para que possamos viver uma vida calma e tranqüila, com toda a piedade e honestidade. Isto é bom e agradável diante de Deus, nosso Salvador, o qual deseja que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade” (I Timóteo 2:1-4).
No texto acima, São Paulo diz expressamente que devemos orar uns pelos outros e que ISSO É BOM E AGRADÁVEL AOS OLHOS DE DEUS! Mas orar não é mediar (mediar significa estar no meio de dois pontos, servindo de elo para eles)? Então como é que São Paulo nos diz para orar uns pelos outros e logo em seguida diz que só Jesus é mediador? Simples! Concordam conosco que quando Paulo falou que Jesus é o único mediador ele estava referindo-se ao momento em que Jesus falou: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim” (São João 14:6)?
Veja a relação com o versículo 4 de I Timóteo, capítulo 2, que diz que Deus deseja que todos se salvem e cheguem ao conhecimento da VERDADE. Ou seja, Jesus é a verdade, é o único caminho de salvação, o único que nos mostra o caminho que leva diretamente a Deus! Ninguém, muito menos um santo, pode ser caminho de salvação para ninguém e é nesse sentido que Jesus é chamado de único mediador.
Até porque se analisarmos o versículo 5 de maneira isolada, ele vai dar a entender que teríamos que parar de fazer pregações, cultos e celebrar missas, pois com isso nós estaríamos levando aos outros a palavra de Deus e Seus ensinamentos, logo estaríamos fazendo justamente o que ele diz para não fazer: mediando.
E se fossemos seguir essa interpretação isolada teríamos, inclusive, que destruir todas as Bíblias do mundo! Afinal a Bíblia é considerada a palavra de Deus. Logo, se ela leva os ensinamentos de Deus a todas as criaturas, ela está mediando uma relação de Deus com os homens.
Viu quantas coisas terríveis podem acontecer diante de uma má interpretação da bíblia?!
ACUSAÇÃO Nº 4: Mas Jesus prega a intercessão feita pelos vivos. Os mortos não podem mais nos ouvir e nem podem interceder!
Em primeiro lugar, os primeiros cristãos da época apostólica já pediam orações para os que já haviam morrido. Foram encontradas inúmeras inscrições nos túmulos dos primeiros cristãos de pessoas pedindo orações aos mortos. Além disso, existem passagens na Bíblia que comprovam a relação dos santos mortos com os vivos. Seguem algumas delas:
“Eis o que vira: Onias, que foi sumo sacerdote, homem nobre e bom, modesto em seu aspecto, de caráter ameno, distinto em sua linguagem e exercitado desde menino na prática de todas as virtudes, com as mãos levantadas, orava por todo o povo judeu” (II Macabeus 15:12)
Onias, o homem que aparece orando pelos judeus neste texto, já estava morto quando isso aconteceu. Os protestantes, por exemplo, não têm esse livro em suas Bíblias, pois Lutero o retirou por não condizer com suas doutrinas. E olhe que Lutero não retirou esse livro da bíblia protestante por conta da demonstração de intercessão, mas por outros motivos. Na verdade, Lutero era devoto de Nossa Senhora e, por isso, acreditava também na intercessão dos santos.
Durante a transfiguração de Jesus (São Lucas 9:28-36) Moisés e Elias (personagens do antigo testamento, que, portanto, já não estavam mais entre os vivos há séculos) apareceram conversando com Jesus diante dos apóstolos. Se isso não mostra a relação dos santos com Deus e com os homens, não sabemos o que isso pode mostrar!
Na parábola do rico e de Lázaro (São Lucas 16: 19-31), o homem rico, depois de morto e já no inferno, intercede a Abraão (um santo patriarca) pela sua família pra que eles sejam avisados de como o inferno é terrível. É verdade que Abraão não atende o pedido, mas isso acontece não pelo fato de ele não poder, mas porque, segundo o próprio Abraão, não adiantaria fazer isso, pois não iria mudar a crença dos familiares do rico. Ou seja, ele podia, mas não fez por não ser necessário.
Ainda existem aqueles que dizem que quando morremos ficamos literalmente mortos até o dia do juízo. Se fosse assim, Jesus estaria mentindo quando disse: “Quanto à ressurreição dos mortos, não lestes o que Deus vos disse: Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó? Ora, ele não é Deus dos mortos, mas Deus dos vivos” (São Mateus 22:31-32), ou quando falou ao ladrão na cruz “Em verdade te digo: hoje estarás comigo no paraíso” (São Lucas 23:43). Como é óbvio que Jesus não mente, fica claro que os mortos não ficam dormindo à espera do juízo final.
O engraçado é que tudo isso, exceto a passagem de II Macabeus, não está somente na Bíblia católica, mas mesmo assim há quem possua em suas bíblias essas mesmas passagens e ainda assim negue a Doutrina da intercessão dos santos.
Além disso, temos os textos dos grandes pais da Igreja que falam a respeito da oração dos santos, mostrando que essa prática já existe desde os tempos apostólicos:
“O Pontífice [o Papa] não é o único a se unir aos orantes. Os anjos e as almas dos justos também se unem a eles na oração” (Orígenes, 185-254 d.C. Da Oração).
“Se um de nós partir primeiro deste mundo, não cessem as nossas orações pelos irmãos” (Cipriano de Cartago, 200-258 d.C. Epístola 57)
“Aos que fizeram tudo o que tiveram ao seu alcance para permanecer fiéis, não lhes faltará, nem a guarda dos anjos nem a proteção dos santos”. (Santo Hilário de Poitiers, 310-367 d.C)
“Por vezes, é a intercessão dos santos que alcança o perdão das nossas faltas [1Jo 5,16; Tg 5,14-15] ou ainda a misericórdia e a fé” (São João Cassiano. 360-435 d.C. conferência 20)
Terminamos por aqui essa primeira parte de nossos estudos sobre a relação entre a idolatria e o catolicismo. Na próxima postagem tentaremos falar um pouco sobre a Sagrada Eucaristia. Ela é realmente o corpo de Cristo? Ela pode ser adorada?
Fiquem com Deus e que Maria os guie pelo caminho que leva a Jesus!
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